No Ponto

Nativas ou exóticas?

Em post anterior, falamos que muitas vezes é preciso observar alguns cuidados quando se planta árvores em áreas urbanas. Além do manual da Prefeitura de São Paulo, compartilhado naquele texto, muitas outras prefeituras têm produzido seu próprio material para ajudar nessa tarefa e vários blogs como o do Instituto Árvore Viva oferece dicas e orientação.  Embora eu não possa atestar sobre a qualidade de cada manual ou blog, não há dúvida que é importante escolher a melhor árvore para cada lugar e situação porque dessa forma garante-se que a árvore possa crescer forte e saudável . Só uma árvore  ‘madura’, adulta,  vai ostentar uma copa capaz de gerar toda a sombra que nossas cidades necessitam. Isso deve ser particularmente fácil de notar neste verão que se prolonga muito além do meio de abril, na maior parte das regiões brasileiras.

Muitas vezes uma árvore que não foi adequadamente plantada, ou teve seu espaço limitado pelo pavimento, ou ainda que ameaça a fiação da rede elétrica, será substituída por uma árvore jovem e todo o processo terá de ser reiniciado ou, pior, em alguns casos nem será substituída. Além do plantio apropriado, a manutenção também é fundamental: poda, irrigação, cuidados com o entorno e com as raízes devem fazer parte da vida da árvore e da agenda de  quem cuida dela, seja o poder público, um grupo organizado ou alguém que quer ter árvores em sua casa ou sítio.

O segundo passo quando a gente tenta entender por que determinadas árvores têm maior ou menor dificuldade de adaptação a uma área é investigar se trata-se de uma espécie nativa ou não. É sabido que deve-se preferir uma árvore nativa em detrimento de uma exótica porque obviamente esta estaria mais preparada para enfrentar as adversidades climáticas locais de forma natural. Isso diminuiria a necessidade do uso de substâncias tóxicas no manejo. Outro fator importante é que uma árvore exótica rompe a relação natural dos bichos locais com a flora. Quando se resgata a vegetação nativa de um lugar, a gente resgata um tanto da história e da cultura locais, mas principalmente restabelece a harmonia ecológica e contribui para uma cidade sustentável. Imagine que um pássaro equipado para construir seu ninho em determinado tipo de árvore não pode permanecer em uma área na qual não encontra os meios para tal. Assim, introduzindo árvores de outras partes do mundo, interferimos nessa relação.

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Uns anos atrás, o ativista e escritor, George Monbiot,discutiu essa questão em seu blog no prestigiado jornal inglês The Guardian  Ele contabiliza que um carvalho, nativo da Grã Bretanha, abriga cerca de 284 espécies de insetos, enquanto uma castanheira, trazida dos Balcãs, apenas quatro. Isso dá uma clara ideia de que a planta nativa gera maior diversidade de vida em torno de si. E esse é um fator importante para sua própria sobrevivência tanto quanto para o das espécies da fauna nativa. Monbiot explica que a adaptação dos seres vivos a uma flora invasiva pode levar até centenas de milhares de anos!

Ele reconhece que nem sempre é possível limitar-se a árvores nativas, inclusive pelas razões que descrevemos acima, pois, no caso específico das cidades, muitas vezes o foco é o espaço disponível e a não-interferência com as demandas urbanas. Por outro lado, é difícil imaginar que em cidades cuja vegetação nativa tem a riqueza da nossa Mata Atlântica, por exemplo, não seja possível encontrar as melhores soluções para cada caso. Há mais informações sobre árvores nativas no blog Amigos das Árvores de São Paulo, de Ricardo Cardim. em qualquer caso, especialistas em geral recomendam que as espécies exóticas não representem mais de 50% das árvores de uma cidade.

No terceiro e último post dessa série, apresentaremos as razões pelas quais ter árvores nas nossas cidades e vidas é mesmo fundamental. Mas enquanto isso, compartilhe fotos das árvores que você já plantou ou das que estão sob seus cuidados. Exiba-se!

Imagens: Quaresmeira (Tibouchina granulosa), espécie nativa, comum em várias regiões do Brasil, inclusive nas áreas urbanas. Crédito: arvores.brasil.nom.br
Flor de quaresmeira (Pixabay.com/ Gadini:CCO Public Domain)