A partir de 2021, todos os condomínios construídos no país devem ter medição de água individual. Veja por que isso é importante.

No Ponto

Quando morei em Saint Louis, no estado americano de Missouri, todo verão um vizinho deixava o irrigador automático regando o jardim de sua casa boa parte do dia. Era quase dolorido ver tanto desperdício, ainda mais por que sob toda aquela água havia tão somente um gramado e umas poucas flores, que acabavam ficando encharcadas.

O tal vizinho se gabava de seu gramado verde e ainda mais de sua esperteza econômica. A empresa de águas da cidade cobrava um valor padrão para cada morador, com base não no consumo mas no número de cômodos da casa. Assim, mesmo esbanjando água, nosso regador maluco pagava exatamente o mesmo que outros mortais com casa de mesmo tamanho e muito mais consciência ecológica.

O consumo de cada um

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No Brasil, uma situação comparável seria a que acontece com os prédios de apartamentos. A conta da água vem embutida nas taxas de condomínio e os moradores não sabem realmente o quanto consomem. Sabem apenas que, seja quanto for, pagarão como qualquer um de seus vizinhos. Pense naquela sua vizinha que usa  a máquina de lavar sete dias por semana!

Isso deve mudar. Uma lei federal recém aprovada exige que as novas construções incluam sistemas de medição individual nos apartamentos. Infelizmente, a lei só passa a valer em cinco anos. Isso hipoteticamente dará tempo suficiente para que as construtoras adaptem seus projetos a partir de agora ao novo modelo.

Economia e consciência

Em geral, o custo da água representa entre 10 e 12% das despesas condominiais e calcula-se que com a medição individualizada haverá uma economia de até 40% no consumo de água. A nova regra, portanto, pode funcionar como um ótimo estímulo para quem já pratica o consumo responsável dos recursos naturais e mexe no bolso de quem só precisa de um empurrão para começar a se tocar da gravidade da questão.

É evidente que o consumo comum, para manutenção do prédio, deve continuar rateado entre os condôminos. Mas mesmo nesse aspecto a mudança  é positiva. Afinal, encoraja  todos a ter mais controle sobre o que é consumido e prestar mais atenção aos benefícios de uma gestão de água consciente. Além disso, os pequenos vazamentos que passam despercebidos vão certamente merecer mais cuidado.

Aos que têm famílias grandes ou alto consumo de água, obviamente a medida é desvantajosa em termos de custo. No entanto, o que se nota, onde o sistema já tem sido usado, é que o gerenciamento melhora e com isso já nos primeiros meses de instalação é possível observar queda no consumo de água no condomínio como um todo. drops-of-water-578897_1920

Foto: CCO/Pixabay/Rony Michaud

Com ou sem lei

A nova lei não se aplica a prédios antigos, mas qualquer pessoa  pode propor a ideia a seu condomínio. Nesse sentido, durante a parte mais crítica da crise hídrica em São Palo e Rio de Janeiro vários condomínios buscaram alternativas para a melhor gestão da água, incluindo  a implantação de hidrômetros individuais.

O grande problema é que a a instalação , dependendo  do ano e tipo de construção do prédio, pode ser inviável estruturalmente ou muito cara. Há, além dos custos de tubulação, um outro valor para a adaptação dentro de cada apartamento. A parte boa é que a decisão cabe ao condomínio e independe da empresa fornecedora de água.

A ideia da lei não é nova e várias cidades brasileiras já criaram sua própria legislação. Muitas ainda encontram problemas em fazer cumprir a lei. Afinal, há de se lembrar que embora tenha leis relativamente avançadas em muitos aspectos, o Brasil falha em cumpri-las. Por isso, nesse caso como em outros,  a exigência e o monitoramento da implementação da lei é fundamental.

Crédito da imagem em destaque:  CCO/Pixabay/Ray Mark/ Foto de produto : Divulgação Ista Hidrômetros