É o fim  do caminho? Ou o começo para um papel totalmente sustentável? Saiba mais sobre o papel pedra.

Da próxima vez que for brincar de papel, pedra ou tesoura lembre-se que já existe um papel feito de pedra e difícil de cortar. Não é brincadeira. Há alguns anos o Repap® (o nome é paper ao contrário)  chegou como grande novidade: é feito a partir de carbonato de cálcio (pedra) misturado a resinas não tóxicas. Na verdade, são 80% de carbonato de cálcio, um subproduto do calcário, encontrado em abundância no planeta. No caso específico do Repap, os fabricantes afirmam reutilizar sobras de construções e de pedreiras, que são por sua vez reduzidas a um pó bem fino. Outras empresas, como a Rockstock™ da Nova Zelândia, seguem a tendência.

Segundo os fabricantes, o papel de pedra gasta menos água e 30% menos energia em sua produção do que o necessário para reciclar papel convencional. Além disso não emprega nenhuma árvore  no processo. Por ser naturalmente branco, tampouco exige produtos químicos como cloro ou branqueadores ácidos, por isso quando incinerado não desprende gases tóxicos e produz mínimo dióxido de carbono, se comparado ao papel feito a partir de madeira.

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Clássico caderno de capa dura (96 páginas) da italiana Repap Ogami.
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Opções mais informais da Terraskin.

Nem tudo é perfeito

A resina que se mistura à pedra, porém, é o HDPE(High Density Polyethylene), ou seja um componente plástico. Sendo assim, não se pode dizer que seja inteiramente natural. O melhor é que seja reciclado como plástico do tipo 2, mas nem todo posto de coleta está apto a receber e reciclar este material.

Curiosamente, se exposto  aos raios UV  a decomposição do papel deve acontecer entre 14 e 18 meses. Isso, claro, não se aplica a lixões, onde o material acabaria coberto de terra e de detritos e portanto fora do alcance do sol. Não há menção ao que acontece neste caso específico com o plástico que, afinal, não é biodegradável.

Os críticos também costumam duvidar dos benefícios à natureza, considerando que hoje, em países como o Brasil, virtualmente todo o papel vem de árvores de reflorestamento, plantadas para a produção de papel. O consumo do papel e sua demanda também foram reduzidos, graças ao uso do texto digital e das campanhas massivas de várias empresas e órgãos públicos para a diminuição da impressão desnecessária. Por tudo isso, é sempre bom analisar o produto com cautela. Mesmo quando alardeado como ecológico. A própria Repap faz questão de lembrar que não pretende substituir o papel tradicional.

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A Onyx & Blue brinca com a ideia do novo papel na capa de seu modelo Onix+Green.

Versátil e multiuso

Polêmicas à parte, o papel pedra tem agradado.  É macio quando se escreve sobre ele; é à prova d’água e resistente à gordura;não faz orelhas e é bem difícil de ser rasgado. Outro detalhe: você nunca vai se cortar nele. Já faz bastante sucesso como matéria-prima dos diários e cadernos da companhia italiana Ogami. E a lista de produtos da Rockstock é bem extensa: incluindo desde sacolas, cartões de visita e envelopes até livros. Várias outras empresas  entraram na disputa nos últimos anos, sobretudo pelo consumidor que adora papelaria com estilo.

O material é também indicado para mapas turísticos . Veja, por exemplo, o mapa de Aarhus, Dinamarca, onde uma notinha informa que pode ser usado como proteção da chuva ou para se sentar na grama em um piquenique ou show, por exemplo. A ideia é que sirva às necessidades do turista, ao mesmo tempo promovendo a imagem ecológica da cidade.

 

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Use o  mapa como proteção para  sentar na grama ou para se abrigar se chover no seu piquenique.

 

Produtos no Brasil

Embora vários meios de comunicação tenham anunciado o papel de pedra quando ele surgiu, a novidade parece não ter deslanchado em terras tupiniquins. Ainda é difícil obter os produtos no Brasil. A melhor opção é procurar lojas que trabalham com papelaria importada. A própria página do Facebook da Ogami anda meio abandonada.

A gigante online Amazon tem uma variedade de produtos porque serve de palataforma para  diversos vendedores. Os preços de cadernos e agendas, produtos mais comuns, variam entre 13 e 80 dólares, mas a entrega internacional pode custar mais do que o produto em si. É importante checar bem de onde vêm e os valores da remessa antes de fazer uma compra.

Ainda não se pode escrever na pedra, literalmente, se esta vai ser uma opção real no futuro, diante do papel feito de fibra de celulose. Mas vale acompanhar.

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A Rockstock aposta no papel pedra em produtos de merchandise ecologicamente responsáveis.Veja site