O Atlas da Carne joga luz na questão da produção de carne no Brasil e suas catastróficas implicações ecológicas e sociais. E pode ser baixado gratuitamente!

Nos últimos meses o país tem aprendido que há muito mais por trás do seu inocente bifinho. De um dia para o outro, o que parecia ser conspiração de vegetarianos fanáticos, passou a fazer mais sentido. Além da alardeada operação Carne Fraca, que indicou a péssima qualidade do produto final consumido no país, escândalos envolvendo os grandes frigoríficos mostraram que essa indústria está conectada aos piores esquemas de corrupção, incluindo os dos âmbitos mais altos da política nacional.

capa atlas da carne

Como a indústria da carne patrocina praticamente toda a grande mídia do país (menos de um ano atrás celebridades vendiam sua credibilidade para marcas ligadas a essas empresas), não é preciso refinada perspicácia para compreender que a realidade deve ser ainda pior do que a se revelou até agora.

Mas se alguns detalhes parecem surpreendentes, os malefícios dessa atividade econômica milionária já há algum tempo são foco de pesquisa. Uma delas, muito séria, pode ser acessada gratuitamente por meio do Atlas da Carne – fatos e números sobre os animais que comemos.

Trata-se de uma publicação da fundação alemã Heinrich Böll, que se apresenta como uma organização catalizadora de “visões e projetos verdes”, um think tank que propõe reformas nas políticas em várias questões sócio-ambientais, com atuação internacional, incluindo o Brasil, com escritório no Rio de janeiro.

O Atlas, lançado originalmente em alemão, já está em sua terceira edição por lá e foi logo seguido por versões em inglês, espanhol e francês. Desde o ano passado também existe em português. Isso é importante porque os efeitos da pecuária do agronegócio nos afetam diretamente. Segundo a fundação, a expansão do cultivo da soja e da criação do gado bovino são os dois maiores responsáveis pelo desmatamento de diversos biomas no país, incluindo a Amazônia e o Cerrado.

O desmatamento é, no entanto, apenas uma das consequências nefastas dessa indústria. Entre elas, uma das mais paradoxais é a fome. Isso porque sua produção intensiva relega ao segundo plano as necessidades nutricionais de cada país e suas comunidades; provoca o deslocamento de pequenos produtores (agravando os problemas socioeconômicos); e representa a perda de biodiversidade, que por sua vez também afeta o estilo e a qualidade de vida das populações locais.

Veja alguns dos dados que você vai encontrar no Atlas:

Estima-se que:

  • 90% da soja produzida em todo o mundo seja destinada à fabricação do farelo utilizado para ração animal.

  • 31 milhões de hectares do solo brasileiro foram destinados ao cultivo da soja, em 2015.

  • 15 mil litros de água são necessários para a produção de apenas 1 kg de carne no Brasil (e lembre-se de que ainda vivemos uma crise hídrica).

  • Quase 1/3 (um terço) dos gases do efeito estufa em nível global são gerados pela pecuária intensiva.

  • 150 milhões de toneladas de carne extra serão necessárias até 2050 se o consumo de carne continuar crescendo nos níveis de hoje.

  • 172 milhões de hectares de superfície do território brasileiro são áreas de pastagem para a criação do gado bovino no Brasil.

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Foto aérea contrasta um plantio de soja, separado do cerrado por uma pequena estrada de terra, ilustrando a ameaça que representa ao meio ambiente. Crédito: Adriano Gamabarini/WWF Brazil

Embora a situação seja de fato alarmante, há muito mais informação nas 66 páginas da publicação do que dados estarrecedores. A fundação acredita que uma pecuária em que a carne seja produzida e consumida localmente, em que toda a cadeia de produção seja transparente, além do desaceleramento do consumo em escala mundial sejam alternativas ao agronegócio.

Carnívoros, vegetarianos e veganos são afetados negativamente por essa indústria sem ética e predadora em vários sentidos. Só o conhecimento de seus mecanismos pode nos levar, como cidadãos, a agir e exigir mudanças.

Se ainda não baixou, use o link abaixo:

Atlas da Carne – fatos e números sobre os animais que comemos 

 Imagem em destaque:eutrophication&hypoxia Designer: Victor Soriano Creative Commons License.