Onde  e em que condições? Essas são apenas algumas das perguntas propostas pelo evento Fashion Revolution que acontece este mês em mais de 90 países. Saiba mais e participe!

No dia 24 de abril de 2013, um prédio de cinco andares, o Rana Plaza, desabou no distrito de Dhaka, em Bangladesh. Na tragédia, 1133 pessoas morreram, a maioria trabalhadores que confeccionavam roupas, e cerca de 2500 pessoas ficaram seriamente feridas. O prédio sediava apartamentos e escritórios comerciais, mas sobretudo cinco fábricas de vestuário.

A tragédia chamou a atenção do mundo não somente por ser considerado o acidente com o maior número de vítimas fatais na história da indústria de roupas, mas também porque revelou as péssimas condições de trabalho e os salários baixíssimos aos quais os trabalhadores, de fato a maioria jovens trabalhadoras, estavam sujeitos.

Bangladesh, então na posição de segundo maior produtor de roupas do mundo, com um mercado avaliado em 28 bilhões de dólares (atrás somente da China) também revelava que toda a sua produção era voltada a grandes e famosas marcas europeias e norte-americanas.

Se muita gente já questionava a necessidade de transparência no ciclo produtivo da moda, o horror de Rana Plaza tornou tudo mais urgente. Entidades internacionais de direitos humanos e direitos do trabalho organizaram um documento em que empresas de roupas e sapatos se comprometeriam publicamente a revelar, duas vezes por ano, onde seus produtos são feitos, incluindo endereço e em que condições, assim como o número de trabalhadores em cada localidade.

De 72 empresas, apenas 17 assinaram o documento. Gigantes como a Walmart insistem em criar seus próprios regulamentos, ao invés de se juntar ao esforço global. E nesse sentido, mesmo marcas como Mango e a sofisticada Hugo Boss têm se mostrado relutantes em adotar as medidas necessárias para assegurar a todos a transparência de seus meios de produção e demonstrar respeito por seus consumidores.

Fashion Revolution

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Foi também a partir  da tragédia que se criou o movimento Fashion Revolution, com base na Inglaterra, para promover a reflexão sobre a cadeia produtiva da vestimenta (roupas, sapatos e acessórios) que usamos no dia-a-dia.

Todo ano, na semana de aniversário da tragédia do Rana Plaza, são promovidos eventos em diversas parte do mundo com ações de conscientização, mesas redondas e debates.

Este ano o evento ocorre em mais de 90 países, incluindo o Brasil (de 21 a 29 de abril). Veja quando e em que cidades os eventos acontecem: Fashion Revolution Brasil

Segundo dados da Fashion Revolution, 75 milhões de pessoas trabalham fazendo nossas roupas. Destas, calcula-se que 80% sejam mulheres entre 18 e 35 anos. A maioria dessas pessoas vive em condições de pobreza absoluta, sem o mínimo para suas necessidades básicas. Muitas vezes ainda sujeitos a abusos verbais ou físicos, em locais de trabalho inseguros e sujos.

Para cobrar responsabilidade social das corporaçõess, temos de ser consumidroes conscientes também. Alguns cuidados e questionamentos podem ajudar:

  • Verifique as etiquetas das suas roupas (onde foram feitas, por exemplo).
  • Procure conhecer o histórico das lojas e grifes que compõem seu guarda-roupa (são empresas éticas, já foram acusadas por trabalho escravo, oferecem transparência sobre seu processo produtivo?)
  • Você usa todas as roupas que tem? Já pensou em doar ou vender o excedente?Uma peça de roupa que não foi usada no último ano é sinal de que talvez seja desnecessária;
  • Considere a reforma de roupas que podem ser remodeladas, várias costureiras hoje trabalham com isso;
  • Já parou para pensar quando você compra uma roupa mais barata do que seria possível que alguém está sendo terrivelmente explorado para que isso aconteça?
  • Que tal promover um bazar com um grupo de amigos. Pode ser um evento de troca, de venda, quem sabe para levantar fundos para uma boa causa;
  • Um evento maior pode ser promovido na sua escola, comunidade ou igreja. Inspire-se!

Fora de moda

Como se não bastasse tudo o que sabemos hoje sobre as condições de produção das nossas roupas e acessórios, é importante lembrar que a indústria da moda também afeta terrivelmente o ambiente, sendo responsável por 3% de toda a emissão de CO2 no mundo.

Os produtos químicos utilizados para tingimento e tratamento dos tecidos poluem rios e todo o processo de manufatura demanda altíssimas quantidades de água.

Nos Estados Unidos, de acordo com a EPA (agência de proteção ambiental americana), 84% das roupas que as pessoas descartaram em 2012 foram parar em aterros sanitários ou foram incineradas, adicionando mais poluição a todo o processo, sem contar o desperdício.

Parte do lema da Fashion Revolution é valorizar nosso papel dentro desta cadeia produtiva. “Nós como cidadãos e consumidores — nossas questões, nossas vozes, nossos hábitos de compras — temos o poder de ajudar a mudar as coisas para melhor. Temos o poder de conduzir as tendências. Cada vez que compramos algo, estamos votando com nossas carteiras. Por isso, quando falamos as marcas e os governos vão ter de nos ouvir”.

E viva a revolução!

Imagens: Creative Commons CC0License; Fashion Revolution
Para saber mais:
Fashion Revolution
Fashion Revolution Brazil
Instituto Akatu
Sobre o colapso do Rana Plaza, em inglês