Depois do Carnaval, hora de encarar o ano letivo pra valer. Aprenda e inspire-se com esses professores que trabalham temas importantes de forma lúdica e convidativa.

Quando surgiram termos como sustentabilidade, reciclagem, mobilidade urbana ?  Você já pensou quando foi a primeira vez que essa terminologia toda entrou na sua vida?

Mais importante do que  ter  o vocabulário na ponta da língua, é entender o que esses conceitos representam e o impacto que têm no nosso dia. E quanto mais cedo melhor.  Felizmente, muitos professores estão cada vez mais promovendo esse conhecimento em suas aulas. E nada mais oportuno do que pensar nisso, quando mais um ano escolar tem início.

Conheça aqui algumas experiências que, valorizando a capacidade das crianças de compreenderem o ambiente em torno delas, podem torná-las mais conscientes e cidadãs, prontas a cuidar de um planeta que não é um objeto de decoração azul e bonitinho, mas a casa de todos nós.

Abrindo janelas

Para um grupo de quinto ano do Colégio Stagio, de São Bernardo do Campo, região da grande São Paulo, a aula de artes foi muito além de cores e pinceis. Isso porque, a experiente professora Fátima Ribeiro os guiou por um caminho com muitas janelas, ideias e descobertas.  “Apreciamos a obra A Janela Aberta (1905), de Henri Matisse, explorando questões como ponto, linha, forma, cores empregadas, atendo-nos à parte, digamos, mais burocrática da obra. Depois falamos sobre sensações, sentimentos despertados, o porquê da escolha destas cores e não outras, tentando adivinhar o que se passava pela cabeça do artista ao conceber a pintura. Onde estava? A paisagem é real ou imaginária? O que será que pensava enquanto a pintava? Para alimentar o fazer artístico, observamos outras imagens com a mesma temática : ‘Mulher na janela’, de Salvador Dali, ‘Morning Sun’, de Edward Hopper, Paris através da janela, de Marc Chagall, Open Window toward the Seine, de Pierre Bonnard, de escolas artísticas e épocas diferentes”, ela conta. Então pedi para que olhassem pela janela da sala de aula, observassem e registrassem tudo o que viam e ouviam e, em uma roda de conversa, compartilhamos o que registraram”, detalha.

 

 

Reproduções de A Janela Aberta, de Henri Matisse e Mulher na Janela, de Salvador Dalí

Como resultado, os alunos confeccionaram uma janelinha com cartolina, que abria e fechava: “Atendo-se aos detalhes de uma janela personalizada, cada um deu seu toque especial : havia janelas com tijolinhos desenhados, com floreiras, com vitrais, em estilo mais moderno, mais antigo”, ressalta Fátima. E então veio o momento em que tiveram de desenhar o que se vê quando se abre essa janela. “Muitos desenharam paisagens de lugares que já conheceram e gostariam de voltar, outros paisagens de lugares que gostariam de conhecer. Mas o que mais me emocionou é que a maioria desenhou a própria paisagem vista da janela da escola : o fundo do parque Salvador Arena e a rua da escola com seus ipês, cujas flores cor-de-rosa já enfeitavam as copas”. O curioso, continua Fátima, é que os desenhos do parque ofereciam “algumas melhorias”, como a eliminação da poluição visual, por exemplo. Em suas releituras da paisagem, não havia as placas e postes que enfeiam a paisagem. Toda a produção foi exposta para colegas de outros anos.

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Os ipês em flor do parque ganharam destaque  nas janelas das crianças.

Em sua própria “leitura”do espaço da cidade, os  alunos da professora Fátima usaram a oportunidade para interferir sobre essa paisagem, sugerindo o que lhes parece mais importante, seja do aspecto estético ou prático. Como, aliás, qualquer cidadão deveria fazer.

 

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‘O que você gostaria de ver da sua janela?’

 

No seu pedaço…

Mas se mudar uma cidade parece empreitada grande demais para nossos criativos estudantes, que tal  começar interferindo num espaço menor e mais ao alcance deles?

No caso da professora Brazilia Botelho, do Colégio São Domingos, no bairro de Perdizes, em São Paulo, o espaço escolhido foi o pátio da biblioteca da própria escola. “A partir de um olhar para a qualidade de vida e o que isto significa para cada um de nós, nossas famílias e comunidade do Colégio, os alunos, que têm entre 7 e 8 anos, acharam que aquele pátio merecia uma intervenção!”, justifica a professora.

 

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Qaulidade de vida feita com as próprias mãos: os canteiros ganharam espécies nativas e árvores frutíferas.

 

“Em primeiro lugar olhamos para os canteiros, com plantas ornamentais que não produziam frutos capazes de alimentar insetos, pássaros ou humanos. Inspirados por uma visita à Horta das Corujas, em São Paulo, e pela obra do artista Hundertwasser, pensamos que seria bem melhor trazer espécies nativas frutíferas assim como PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), temperos e hortaliças. Estudamos muito e, mais que tudo, pusemos a mão na massa para trazer para este espaço muitos vasos e caixotes espalhados com temperos, flores e árvores também: pitangueira, jabuticabeira, batata doce, peixinho ( planta!!!), flores comestíveis, maracujá, hortelã, couve e muitas outras coisas”, descreve empolgada.

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As crianças preparam a tinta à base de terra para pintar e decorar as janelas. A inspiração para o material veio do artista austríaco/novozelandês Hundertwasser, mas o trabalho e a criação foi dos alunos do São Domingos.

 

E a intervenção foi além. Segundo a professora, a terra também serviu de base para fazer tinta e, assim, transformarem as janelas! Outro desdobramento interessante do projeto, é que os alunos do 9°. ano, entre 14 e 15 anos, estavam aprendendo sobre PANCs e dessa forma puderam ‘assessorar’ os colegas menores em seu trabalho, orientando-os sobre a utilização das PANCs no dia a dia.

O trabalho ligado à sustentabilidade não é o primeiro de Brazilia e ela admite que acabou enveredando definitivamente para o que chama “a turma do dedo verde”: “Dentro da escola, fora da escola, dentro de mim mesma!”.

 

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Antes…

 

 

 

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…e depois! Parte do pátio da bilbioteca transformado com vasos, PANCs, temperos e árvores frutíferas.

 

Reciclagem é mais que conceito

Voltando ao ABC paulista, o artista plástico e professor de artes, Alexandre Barasino, trouxe a cidade para dentro da escola municipal, onde leciona, ao trabalhar o tema da sustentablidade em paralelo com uma campanha da prefeitura que inaugurava um serviço de coleta de lixo reciclável.

Usando o gancho da campanha, Alexandre convidou seus alunos a refletirem sobre a própria produção artística dentro da escola. “O pessoal usa muito material como potinhos, garrafas PET, papelão e onde tudo isso termina? “, questiona. “Como a arte é efêmera, decidimos fazer arte, fotografá-la e depois reciclar todo o possível”. A reciclagem acabou dando o tom de todo o projeto, o qual, Alexandre reforça, foi desenvolvido em constante diálogo com os alunos.

 

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Um boneco muito especial: para lembrar sobre a importância da reciclagem.

 

“Estávamos trabalhando dança e artes visuais explorando o movimento do corpo e as possibilidades de pintura em um objeto tridimensional. Foi quando surgiu a ideia do personagem baseado no jogo de videogame  Mine Craft . Estudamos um pouco de escultura, fizemos exercícios de desenho de observação com modelo vivo, exploramos diversos tipos de danças, conhecemos um pouco da nossa cultura e entramos no tema da sustentabilidade. Como eles estavam muito envolvidos com as esculturas,  propus fazermos bonecos com latinhas de refrigerante ( toy art) que acabou gerando um boneco gigante sobre o tema de sustentabilidade”, descreve Alexandre. Assim começava a divertida jornada dos estudantes do quinto ano da EMEB Profa. Kazue Fuzinaka, em São Bernardo do Campo.  “A partir daí passamos a investigar para onde vão as embalagens”, explica.

 

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Alunos da EMEB Profa. Kazue Fuzinaka trabalhando na construção de um monstro bonzinho…

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Material de divulgação da coleta seletiva de São Bernardo do Campo, no ABC paulista: inspiração para a arte e a consciência ecológica dos alunos da escola municipal Kazue.

 

Um projeto escolar que pode gerar sustentabilidade e prêmios!

logoInstituído no estado do Tocantins em 2016, o Prêmio Mérito Ambiental tem o objetivo de homenagear pessoas físicas ou jurídicas que tenham se destacado na preservação e defesa do meio ambiente , estimulado boas práticas ambientais, por parte da sociedade, órgãos públicos e iniciativa privada, ou executado ações que envolvam desenvolvimento sustentável.

 

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Foto: Fernando Alves/ Governo do Tocantins.

 

Um das categorias é o Troféu Escola de Educação Ambiental que este ano vai premiar duas escolas, públicas ou particulares, que tenham se destacado com um projeto que contribua para a elevação dos índices de consumo sustentável e de preservação do meio ambiente. As inscrições estarão abertas até o dia 25 de março e, além de troféus, cada escola vencedora receberá uma Composteira automática como prêmio. Os resultados serão divulgados em maio e no mês seguinte acontece a cerimônia de premiação.

Se você mora no Tocantins e sua escola está envolvida num projeto deste tipo, saiba mais pelo link aqui.

E a sua escola?

Você realizou uma atividade como professor(a) ou como aluno(a) e gostaria de compartilhar com a gente? Entre em contato . E se ainda não teve a chance, que tal tentar e depois contar como foi? Vamos espalhar essa ideia por aí! E que todos tenham um bom ano escolar! ♣

Horizonte Sustentável agradece aos professores que participaram da matéria por compartilharem suas atividades e por terem gentilmente nos cedido as fotos que a elas se referem. Parabéns a todos pelo excelente trabalho!