Nos dois posts anteriores, falamos sobre o uso da bicicleta para a entrega de produtos e para a execução de tarefas cotidianas, ainda hoje feitas em sua maioria via carro ou motocicleta. Mas provando que a sustentabilidade anda de braços dados com a criatividade, uma nova modalidade de entregas tem crescido e aparecido…

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Geleias e outras delícias veganas da Feminine Vegan: do metrô pra sua mesa. Foto:Divulgação

Muito se tem discutido sobre formas de consumo sustentáveis. E isso inclui a maneira como chegamos até um produto (ou como ele chega até nós). Há alguns anos, por exemplo, as compras online eram vistas como as mais indicadas porque a entrega em domicílio evitava que as pessoas dirigissem seus carros, individualmente, para os shopping centers da vida. Isso fazia sentido especialmente nos Estados Unidos, reduto do transporte individual. Mais tarde, porém, com o boom das vendas online, começou-se a questionar essa ideia. Afinal, caminhões são carregados e circulam todos os dias com produtos feitos muito longe de onde serão consumidos, poluindo o ar e gastando combustível fóssil, e na prática colidindo com o princípio da economia solidária, que aposta no consumo local.

Pelo menos em São Paulo  já e possível uma alternativa que mistura compra online à ideia de  consumo local, ou quase. Os produtos são em geral artesanais, feitos, vendidos (geralmente via rede social ou loja virtual) e entregues pelos próprios produtores, diretamente nas mãos da clientela, em uma estação de metrô da cidade. Uma das vantagens mais imediatas dessa opção é a economia. “Barateia muitíssimo o custo”, acredita Thaís Fonseca, da Senhor Gregório, que faz e vende quadrinhos bordados. “O frete em São Paulo, quando não conveniado, para PAC ou encomendas maiores, é de no mínimo 15 reais”, ela compara. “Fazendo entrega em mãos, a gente gasta no máximo R$ 5,00  de integração. No meu caso, gasto R$ 3,80 porque moro perto de uma estação”, contabiliza.

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Os bordados de bastidor da Senhor Gregório numa estação perto de você. Foto: Divulgação

Para Shastra Devi Dasi, do Feminine Vegan , alimento vegano como geleias, salgados, quiches e até leite vegetal, a entrega em estações de metrô não só é mais barata como também prática. “É um meio de você ter contato direto com o comprador. Eu em particular adoro!”, ela explica. “Cria um vínculo muito bacana de confiança, que conta muito”. A segurança é outro fator importante. “Já fiz entregas em estações de metrô e já recebi produtos como compradora também”, conta Thaís. “Acho que é seguro porque é um lugar movimentado, com muita gente por perto”.

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Shastra, por sua vez, lembra que antigamente, em São Paulo, a catraca da estação Sé era o ponto de encontro mais usual, mas hoje as entregas se expandiram para todas as estações. “O mais louco é que se entrega de tudo: comida, sapatos, roupas, discos, utensílios…”, diz. Mas para que a transação seja uma boa alternativa é necessário que ambos, vendedores e clientes, sejam confiáveis. Para Thaís, a desvantagem é que a pessoa pode não aparecer ou cancelar em cima da hora. “Além disso, dependendo da distância e do horário, pode ser bem cansativo”, ela admite.

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Shastra, pronta para mais uma entrega. Foto: Arquivo Pessoal

Outra característica interessante desse tipo de negócio, é que as empreendedoras são, na maioria, mulheres. Muitas aliás oferecem seus serviços e produtos em páginas do Facebook, ligadas ou não a coletivos feministas, abertas exclusivamente para mulheres. Além dessa questão relevante, o uso do transporte público é certamente uma forma de entrega de baixo impacto para a cidade, que pode ser eficiente porque muitas vezes os consumidores dos produtos não precisam se deslocar  do seu caminho cotidiano.

Ideias semelhantes

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Ainda que mais formais e voltadas principalmente a grandes empresas,  outras iniciativas semelhantes têm surgido em várias partes do mundo. Em Delhi, na Índia, desde o ano passado algumas empresas de venda online permitem aos consumidores a opção de retirar suas compras em uma entre 10 estações de metrô. Dessa forma, soluciona-se o problema da entrega para quem que não pode estar em casa em horário comercial para receber sua encomenda. Os clientes que optam por esse tipo de entrega determinam a estação mais conveniente e com uma senha única retiram o produto na data indicada. Em algumas estações  é possível inclusive pagar no próprio terminal, com cartões de crédito e débito.

peapod-giantNos Estados Unidos, um programa piloto da Peapods Giant, que possui serviço de delivery para as compras de supermercado, entrega em três estações de metrô da earea metropolitana de Washington, DC. Os postos entregam apenas três horas por dia, sempre no fim do expediente. As estações em teste são no subúrbio, onde os usuários do serviço deixam seus carros de manhã e tomam o transporte público para a cidade. Com o serviço, seriam poupados de carregar as compras dentro do trem ou de ter de fazer mais uma parada em um supermercado no caminho de volta para casa. Todas as entregas da empresa têm uma taxa variável acrescida ao valor total da compra.

A grande novidade do que vem acontecendo nas cidades brasileiras que possuem rede de metrô é que os parceiros envolvidos são em geral micro-empreededores, como Thais e Shastra, e os produtos são feitos manualmente em um local não muito distante do consumidor final. Como se ainda fossem necessários outros motivos, este é  mais um, e muito bom,  para que os gestores públicos invistam na criação e extensão de linhas de metrô.

Créditos: Abertura (The Photographer/CCO); Delhi (Pixabay/CCO); Peapod by Giant (Sean Shanahan). 

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