Oxford Street, a rua mais movimentada da capital inglesa, vai se transformar em via exclusiva para pedestres

Enquanto na Inglaterra e fora dela muito se discute ou se lamenta a decisão do país de abandonar a União Europeia, a cidade de Londres, onde a maioria votou contra a saída, prova mais uma vez estar na vanguarda ao anunciar a pedestrenização da Oxford Street, uma das ruas mais movimentadas da cidade e famoso centro de compras.

Centro comercial pulsante, a rua ganhou má reputação por seus altos níveis de poluição do ar, sempre acima do que recomendam as diretrizes da União Europeia. Note-se que os carros particulares já não circulam na via em horários de pico desde o começo dos anos 80. Mesmo assim, o grande número de ônibus e táxis provoca tráfego complicado e, tipicamente, índices de emissão de poluentes equivalentes a 12 meses em apenas duas semanas.

Encontrar uma solução tem sido portanto o desafio para os urbanistas londrinos por anos. A logística para descascar esse abacaxi parecia impossível porque embora a Oxford não seja tão estreita para o padrão das ruas londrinas, ela se localiza entre várias ruelas, verdadeiros labirintos que a deixam como única alternativa viável para cruzar a cidade. Se o entorno dificulta o que seria mais simples, ou seja, a mera transposição dos itinerários dos ônibus, é sabido que se as linhas de ônibus e o grande volume de táxis fossem simplesmente desviados os problemas principais: tráfego intenso e poluição seriam apenas transferidos para os arredores.

 

Oxford 3
Oxford Street: importante centro de compras londrino, pelas lentes de um transeunte.

 

Por sua complexidade, muita gente ainda demonstra ceticismo com relação ao projeto. Os londrinos têm até o próximo dia 17 para enviar suas sugestões. Na primeira consulta pública, 12.000 pessoas participaram falando de suas preocupações e apontando o que consideram as principais questões nessa transição. Mas a primeira fase da transformação já tem data: até o final de 2018, 800 metros da via ficarão totalmente livres de carros. Dois outros setores da rua seguirão o mesmo caminho no anos subsequentes. Segundo o departamento de transportes, a ideia é usar a experiência da primeira fase para melhor orientar as etapas seguintes.

 

Oxford Street 2
Ilustração de como a rua deve ficar depois de se tornar exclusiva para pedestres: pavimento colorido para dar o clima. Crédito: TfL (Departamento de Transportes de Londres)

 

O projeto é ambicioso porque para ter sucesso vai ter de interferir não somente na rua mas em todo o distrito. Assim uma nova linha de metrô subterrâneo está em andamento e duas grandes e novas estações serão abertas na área, para desafogar as linhas atuais. Isso deve atrair os atuais passageiros de ônibus que hoje evitam os trens lotados e estações sobrecarregadas. Além disso, muitos dos usuários não terão outra opção a medida que nove das linhas de ônibus que hoje circulam na área serão interrompidas. Apenas duas das linhas vão circundar a Oxford Street por meio das ruas paralelas e subjacentes. Outras duas linhas terão suas rotas totalmente afastadas da área e as cinco linhas remanescentes, que vêm do lado oeste da cidade, vão terminar no extremo oeste da rua. Os táxis também serão banidos e seus pontos vão ser relocados.

Obviamente, o projeto, bancado por dinheiro público e investimentos privados, prevê passagem para veículos de emergência e de manutenção. Há também a previsão de cinco cruzamentos. Mesmo  assim é bem provável que nem todos os quase dois quilômetros de extensão da rua sejam totalmente fechados aos carros. Para que o sucesso seja total,  os pedestres realmente têm de ocupar a extensão aberta e tornar o espaço interativo em uma área de convivência convidativa e agradável.

Nesse sentido, o plano é eliminar a diferença de níveis entre calçada e rua, cujo o pavimento deve ser graficamente bonito, encorajando pedestres a circular livremente e com confiança, depois de anos confinados a calçadas que nessa época do ano, por exemplo, ficam intransitáveis.

O novo perfil da rua vai trazer benefícios para os comerciantes locais e residentes; os primeiros devem ver suas vendas crescerem, enquanto os moradores ficarão livres da poluição do ar e outros malefícios do tráfego intenso. O departamento de transportes aposta em tudo isso e em envolver todo mundo nesse projeto. Além de questionários abertos à participação popular online (veja em Fontes ao final do post), também vêm promovendo eventos mostrando ilustrações artísticas de como a rua será transformada e  informando sobre todos os passos do projeto.

 

minhocao ideal
Ilustração do Coletivo oitentaedois para um dos antigos projetos para o Minhocão, em São Paulo, de acordo com artigo recente da BBC Brasil.

 

Até o momento, uma das principais críticas vem do fato de que o projeto não prevê a circulação de bicicletas. Segundo os responsáveis, atualmente a via apresenta baixa presença de ciclistas, o que não justificaria a inclusão. Os críticos, por outro lado, lembram que os ciclistas  evitam a via justamente por ser insegura. Um ambiente com segurança certamente garantiria a volta dos ciclistas, cuja presença ajudaria a absorver uma parte da demanda dos usuários de ônibus.

Enquanto algumas questões importantes ainda devem ser resolvidas, uma bem sucedida transformação da Oxford Street ultrapassaria em muito os limites de Londres e mesmo as fronteiras da Inglaterra. Um projeto de pedestrenização arrojado como este pode abrir um precedente valioso para outras metrópoles e cidades no mundo inteiro, incluindo as brasileiras. Vamos acompanhar e torcer!

paulista
Ser á que a icônica Avenida Paulista poderia seguir a iniciativa britânica. Segundo artigo da BBC a ideia existiu na história da cidade, mas morreu nos arquivos. Ilustração: Coletivo oitentaedois.

Imagem destacada (homepage): Ilustração artística, da Oxford Street depois da transformação. TfL

Fontes:

Transport for London

How to Pedestrianize a Vital Urban Street

Como seria São Paulo se projetos de urbanismo tivessem saído do papel?, BBC Brasil, Leticia Modori